Minha vida não precisava ter sido. Por algum tempo, e em incontáveis momentos pontuais, quem olhasse de fora talvez pensasse: não precisava.
Enquanto era só, eu lutava por manter a cabeça para fora do meu mar de defeitos. Hoje, embora continuem sendo muitos, são já os defeitos de quem nada rumo à praia.
Amar um homem que me deu filhos, amar estes filhos até a loucura, varrer o chão que eles pisam, cozinhar o doce que perfuma a casa todas as tardes — embora a minha vida não precisasse, realmente, ter sido.
Só foi por Graça, como todas.
Sobrevivi à custa de muito Anjo da Guarda.
E respondi a quem duvidava da necessidade da minha existência gerando esses outros que são carne da minha carne.
A eles, a mesa posta, a oração em família, o pai dirigindo o carro, o Amor com letra maiúscula, o saudável exemplo dos sexos complementares.
Por eles, fazemos festa em todas as datas comemorativas. Para que saibam que, como um relógio encantado, a vida respeita a uma constância que não permite retornos; que todas as coisas têm nome e as marcas que deixamos secam mares e cavam abismos.
E sobretudo para que se reconheçam, desde o primeiro instante, necessários: perfeitamente integrados à ordem e ao propósito da nossa vida em família — e do mundo que nos circunda.