Lorena Miranda Cutlak

Dostoiévski e Herzen na Encruzilhada da História

Texto publicado originalmente no blog Ad Hominem, em abril de 2014.

Juro que é a última vez que publico trechos do meu mestrado; é que o momento é realmente propício ao tema. O que vai abaixo são as páginas finais da minha dissertação. O texto não está adaptado e por isso o leitor vá perdoando a monotonia do discurso acadêmico, bem como referências incompreensíveis fora de contexto. Creio, porém, que o fundamental está acessível.

O mais provável é que depois disto eu passe um bom tempo sem falar de Dostoiévski.

Dostoiévski entre a inspiração e a ideologia

Texto originalmente publicado  no blog Ad Hominem, em janeiro de 2014.

 

O texto abaixo é adaptado de um trecho da minha dissertação. Porque é possível infundir vida mesmo nos corpos mais cadavéricos.

Quem não leu Os Irmãos Karamázov pode ler “O Grande Inquisidor” aqui. Sugiro que o faça não apenas para acompanhar este artigo, mas porque aí há mais conteúdo condensado do que em metade dessa estante cheia de livros que você não leu. Sem exagero. Fica a dica.

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Ferrenho combatente de utopias reducionistas, Dostoiévski não deixou de idealizar a sua própria. Mesmo os críticos mais próximos de sua visão de mundo (Berdiáiev, Ellis Sandoz) não deixam de notar este seu ponto fraco: Dostoiévski identificou problemas e escancarou feridas, e o fez com precisão inacreditável, mas não obteve o mesmo êxito quando tentou propor soluções. Um exemplo sumário disto se dá em sua representação de duas personagens antagônicas: Ivan e Aliócha Karamázov. Não será exagero dizer que as falas de Ivan no famoso diálogo entre os dois irmãos, que ocupa o que são provavelmente os três principais capítulos de Os Irmãos Karamázov, fecundaram com suas dúvidas e sua angústia toda a história intelectual do século XX, na Rússia como no Ocidente. Porém, não é possível dizer o mesmo de Aliócha e seu stárietz Zossima, ainda que suas falas contenham as ideias “positivas” do próprio Dostoiévski[1]. …

De como Dostoiévski foi o primeiro olavete; e o desaparecimento iminente dos moderninhos com cara de nojo

Texto originalmente publicado no blog Ad Hominem, em novembro de 2012.

 

Escrevi recentemente um artigo sobre Dostoiévski onde avalio a relação deste com a noção de Ocidente e a cultura ocidental. O artigo foi lido por Joel Pinheiro e Julio Lemos e desagradou a ambos pelo que seria um excessivo tom “olavista-voegelinista”. (Nota: Não conversei com Julio Lemos sobre o assunto; sua apreciação me foi brevemente transmitida por Joel Pinheiro. Já com este último venho discutindo abundantemente todas as questões em torno do malfadado artigo, de modo que boa parte do que direi nesse texto não lhe será novidade. No entanto, creio que a grande maioria das pessoas tem sobre Dostoiévski a mesma impressão truncada que verifiquei ser a do Joel. Este texto é uma tentativa de desfazer parte desses nós e de quebra pegar o gancho da discussão mais interessante que a internet viu nos últimos tempos: aquela em que Olavo de Carvalho respondeu às indiretas de Julio Lemos.) …

Enfrentando o Epílogo de “Crime e Castigo”

Texto publicado originalmente no blog Ad Hominem, em abril de 2013.

Agora que meu mestrado entrou na fase ou vai ou racha, em que um ano e meio de leituras tem de começar a transformar-se em texto, achei que era também a hora certa para reler a obra literária de Dostoiévski. É claro que estou continuamente consultando seus romances e contos, mas uma leitura integral e minuciosa da literatura dostoievskiana como sistema é algo que demanda um esforço paralelo à minha pesquisa em si, que é mais sobre história cultural da Rússia. …

Sobre gratidão e hospitais

Nota publicada originalmente no Facebook.

1. Seria necessário viver algumas vidas para conseguir agradecer o suficiente a todas as pessoas que têm nos apoiado em nossa jornada com a Maria. Eu vinha me preparando para esse momento desde a vigésima semana de gestação, e no entanto para certas coisas nenhuma preparação é suficiente. Digo sem hesitar que não passei por esse momento: fui carregada. Fomos rodeados por uma corrente de amor, fé e esperança tão grande, que certamente há pouco mérito meu em ter vencido essa batalha. Ainda estou zonza devido ao turbilhão dos últimos dias; tudo o que sei é que, nesse exato momento, parafraseando aquela música, metade do meu coração é gratidão e a outra metade também. TODAS as pessoas que rezaram pela Maria ou simplesmente se solidarizaram e nos deram força terão meu amor e minhas orações PARA SEMPRE. Posso não lembrar ou saber de todas, mas Nossa Senhora sabe. …

O imaculado coração de Maria

Texto publicado originalmente no blog A caminho de casa, em maio de 2015

 

“Era em maio, foi em maio,
sem calhandra ou rouxinol,
quando se acaba nos campos
da roxa quaresma a cor,
e às negras montanhas frias
vagaroso sobe o sol,
embuçado em névoa fina,
sem vestígio de arrebol. (…)”

— Cecília Meireles, “De outro maio fatal”, in: Romanceiro da Inconfidência.

Certas cronologias só nos resistem inteiras na memória; é possível esboçá-las em pensamento, mas dificilmente em palavras escritas.

Se estivesse escrevendo o roteiro de um filme e tivesse de escolher uma cena como ponto de partida, diria que tudo começou nove anos atrás, numa tarde — possivelmente de maio, não lembro ao certo — frivolamente alegre. Caminhava pela rua com a primeira amiga que fiz na faculdade quando, a caminho da casa dela, passamos em frente a uma igreja austera, cor de cimento, em cuja fachada se lia: Refúgio dos Pecadores. Rimos. Eu achei muito cômico eles — esse povo da igreja — admitirem que ali só se reuniam pecadores! …